sábado, 7 de novembro de 2009

As Ilhas Amantaní

Saimos de Uros umas 10:00 da manhã e só chegamos a Amantaní por volta das 14:00!  É nesta viagem que dá para fazer uma ideia de como o lago Titicaca é grande, parece o oceano, em alguns momentos não se vê terra à vista, a água é da cor do mar, e a vista fantástica!

Já contratamos o passeio sabendo que dormiríamos na casa de nativos mas não fazíamos a menor idéia de como seria. Logo ao chegarmos percebemos que várias famílias da ilha estavam no cais a espera do barco, vestidos com seus trajes tipicos da ilha.


O guia chamava um membro da familia e nos apresentava as pessoas que seriam responsáveis pela nossa acomodação e pela alimentação.  
Fomos recepcionados por Judite, a nossa anfitriã, filha da dona da casa, a garotinha foi nos buscar no cais e nos levou pela trilha até a sua casa.




As casas dos nativos ficam distante quase mil metros do porto, detalhe é que o porto fica na parte baixa da ilha, ou seja tem que subir.  Não há carrinho de mão nem teleférico, Amantani é uma Ilha localizada a quase 4 mil metros de altitude e as residencias ficam situadas a quase 5 mil metros. A esta altitude o cansaço é inevitável, o esforço físico se multiplica por três, a cada metro avançado, falta ar nos pulmões e os batimentos cardiacos aceleram bastante, principalmente com o peso do nosso equipamento. Paramos por diversas vezes para tomar folego. Jeanne não suportou o peso da mochila e eu tive que levar a minha e a dela e quase tive que carregar a ela também. Nada mal para um recem operado. rs



 

há cerca de uns 12 anos descobriram que o turismo pode ser muito proveitoso para toda a comunidade e tentam fazer com  que essa inestimável riqueza beneficie, de forma igualitária, todos os habitantes de Occosuyo, a comunidade da ilha. Assim, organizaram-se através de um sistema em que os turistas são distribuídos, por ordem do chefe da aldeia, pelas famílias com aposentos disponíveis para os acolher, rotativamente.  Todos os dias chegam lanchas com turistas.

Chegamos a nossa casa, ou  a casa da familia adotiva. Uma residencia simples, de dois pavimentos, no pavimento superior o nosso quarto e em frente um outro que a familia está atualmente utilizando como o refeitório para servir as nossas refeições. Era por volta das 15:00 horas, o guia marcou um ponto de encontro as 16:00. Subiriamos até o alto da ilha para visitar uma antiga ruina Inca. 

Observei que muitas das famílias que recebiam turistas investiam em arrumar um pouco a casa, preparar um quartinho mais incrementado e adaptá-las para os costumes dos hóspedes. No nosso caso, por exemplo, ficamos em um quartinho muito simples mas notoriamente arrumado, com poucos enfeites cautelosamente ali colocados para nos agradar e com uma entrada independente. As camas tinham quatro cobertores cada uma, poderiamos imaginar o frio que nos aguardaria.

Descansamos alguns minutos para logo mais subirmos até o pico da ilha. 
Jeanne não queria ir, estava cansada e com frio, convenci a fazer-me companhia e ela topou.

Judite veio nos chamar as 15:50. A familia que te adota fica responsável por você e pelos seus horários, ela nos acompanhou até a saida do local onde o guia reunira o grupo, Jeanne não resistiu a subida e voltou com Judite,  o guia nos ofereceu uma plantinha de nome muña da qual também tomamos um chá mais saboroso que o de coca. A plantinha tem propriedades vasodilatadoras e facilita e muito a respiração nas altitudes, basta esfregar nas mãos e absorver o seu aroma. Foi com a ajuda desta planta que consegui chegar ao pico sem maiores problemas, esta especie só dá nestas regiões andinas acima de 5 mil metros...    viva a sabedoria da natureza.


                 Foto: Jeanne segurando um ramo de muña. Clique para ampliar.



Continuei com o grupo, já eram pouco mais de 16:30, o sol baixara e começava a esfriar..  foi bom mesmo Jeanne não ter vindo ela iria congelar, a subida era extensa e os pulmões pareciam que iam explodir, estavamos a quase 5.500 metros de altitude e a temperatura um 8 graus, porém não sentia frio, estava com o corpo muito quente pela subida puxada e  um tanto euforico, a sensação era agradável.

A cada metro eu ficava mais facinado com a ilha, as comunidades vivem sobre a pratica da subsistência (agricultura e pecuária), utilizando muita energia solar, algumas casas possuem placa solar que alimentam uma bateria durante o dia para suportar a luz eletrica a noite. O guia explicou que para os habitantes da ilha é ainda uma tecnologia cara e como é subsidiada pelo o governo, a comunidade tem até três anos para pagar, mas nem todos aderiram  a sua utilidade, somente 70% da ilha usufrui.
Eles exploram muito saudavelmente o turismo (e não o turista) e tomam as decisões comunitárias em comunidade! Reunem o povoado para discutir sobre a colheita, as futuras plantações, os bichos, o turismo e os turistas, os casamentos, a manutenção do templo entre outras coisas. Enfim, fazem a alguns séculos o que chamamos hoje de desenvolvimento sustentável e participativo. Percebi que eles são muito felizes com sua comunidade, perguntei a Judite se ela algum dia gostaria de mudar da ilha e viver em outro lugar, ela diz que nenhum habitante da ilha pensa em sair dali.



Foto: Criação de ovelhas em Amantaní



 

Subimos até o topo, uma parada para  uma explicação sobre as ruinas e montanhas. A temperatura caia, quase 4 graus. O cenário é fantástico, parece de filme. 
As ruinas Incas das Ilhas Amantaní não são muito grandes e foram construidas com a finalidade de servirem como um observatório estelar.
Com estes estudos produzidos ali, os Incas dominavam as fases da lua, as colheitas, as estações do ano, baixa e altas temperaturas, vento e época das chuvas.


Pelo caminho diversas mulheres da ilha exibiam seu artesanato. 
Cheguei finalmente as ruinas, fiquei estupefato pela beleza da construção. É uma pena que uma civilização de cultura tão rica tenha sido destruída, em muitos campos como agricultura, medicina e astronomia, os conhecimentos dos Incas eram superiores aos dos europeus. Não se pode fazer idéia do que se perdeu, em termos de tratados científicos, organização sócio-política, agricultura, artes e arquitetura, com a destruição deste povo. 
 De lá de cima pude admirar todo o lago titikaka em um angulo de 360 graus e as gelereiras da divisa com a Bolívia. Minhas mãos começara a enrigecer, sentei-me junto com outros turistas de diversas partes do mundo para admirar o por do sol escondendo-se nas montanhas, alguns minutos mais e o sol se pôra por completo. Não quis voltar junto com o grupo que caminhava devagar, a maioria prevalecera nas ruinas até o ultimo adeus dos raios solares. já era quase noite e a trilha era escura e gelada, voltei na frente sozinho e correndo para aquecer os pulmões aproveitando o restinho de claridade. O ar entrava gelado pelas narinas, cheguei ao lugar de onde saimos para a trilha e lá estava Judite me esperando. Soube depois que alguns turistas se perderam por alguns minutos até o guia voltar a encontra-los já no escuro.  Experiência fala mais alto né? Voltamos para casa, e Jeanne estava me esperando. Era hora do jantar. 
A mãe da Judite preparou a mesa e nos chamou para comer, as refeições, confeccionadas num forno a lenha da cozinha de adobe, eram à base de batata e quinua, simples mas saborosas, sem requinte mas partilhadas com generosidade.  A base da alimentação das ilhas Amantaní além da batata como em todo país é a quinua, para quem nunca ouviu falar, a quinua é uma excelente fonte de carboidrato de baixo índice glicêmico, que leva mais tempo para ser transformado em açúcar no sangue. Isso evita a produção em excesso de insulina, o hormônio responsável pelo estoque de gordurinhas. Ainda tem vitaminas, sais minerais e gordura boa. Mas é a proteína de alto valor biológico que faz desse grão um alimento especial. “A quinua tem uma combinação de aminoácidos (componentes da proteína) semelhante à do arroz e feijão juntos”,. Cada grão contém 20 aminoácidos diferentes, entre eles a metionina e a lisina, responsáveis pela formação de uma proteína completa e de boa absorção. Por isso é bom consumi-la, inclusive quem quer ganhar um pouco de massa muscular. Vou levar uns kilos de quinua quando regressar, no Brasil ainda é muito caro pois se trata de alimento importado.
Não há hotéis em Amantaní mas, mesmo que houvesse, não trocaria o aconchego da sopa ao pequeno-almoço pelo impessoal bufet de um hotel.



Após o jantar, fomos descansar e Judite veio nos convidar para uma festa que os nativos dá ilha organizaram para a gente a noite. Ela nos trouxe roupas tipicas e auxiliou Jeanne com as vestimentas. 

A festa foi organizada em um salão grande fechado que eles utilizam para as reuniões da comunidade. Coisa muito simples, mas interessante pelo fato de estarmos vestidos iguais a eles desfrutando daquele cenário familiar. Após alguns minutos uma bandinha nativa com uma flauta peruana e um bumbo começou a tocar e a Judite nos convidou para dançar o "segure-se" a dança tipica das ilhas Amantaní. 
Que fantástico, que lindo este povo, mesmo com toda a simplicidade de que realmente parecia ser, participamos das suas vidas como se para eles a coisa mais importante naquele momento era as nossas presenças naquele lugar e estavamos ali apenas a algumas horas. Sempre muito sorridentes tratam todos com muito respeito e cuidado além de uma finissima educação.



Para refrescar após a dança, os nativos vendem cerveja, mas preferimos não beber, a garrafa é de um litro e naquela altitude poderiamos não passar bem. 
Nos despedimos da festinha e a Judite nos acompanhou para casa. Estava frio e desmaiamos em sono profundo.


Recordando que nas Ilhas Amantaní, quase não existe energia nem água encanada, passamos este dia sem tomar banho, instalados em um ambiente simples com gente humilde  e comida simples. O sanitário é apenas um vaso sem tábua fincado no chão em um quartinho bem pequeno fora da casa. Os nativos não tem hábito de usar papel higiêncio por isso é bom levar o seu. Não é um turismo para qualquer um, se não for sua praia vivenciar  uma cultura, entender a vida e observar como a existência humana funciona nos quatro cantos do mundo é melhor que não vá! Sei  que o meu encantamento as minhas experiências e deslumbramento sob a minha ótica pode não ser igual a de todo mundo.
Deixamos Amantaní pela manhã as 8:00 e fomos para Taquile.. 




Até a próxima.



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Luiz é guia de turismo com 10 anos de experiência no segmento, formado em turismo e pós graduado em metodologia do ensino para educadores do nível superior. Professor, apaixonado pelo setor, desenvolve novas técnicas e melhorias para o turismo na sua cidade. Quem conheceu Salvador através da sua ótica, sabe que ele não é apenas um estudioso no assunto mas também um autêntico Baiano apaixonado pela arte, cultura e memória do seu povo. Precisando dos seus serviços bem como dicas e informações adicionais basta entrar em contato ou acessar sua pagina. Ele terá imenso prazer em auxiliá-lo. Visitem seu site: www.luizguia.pro.br